Em bate-papo no Blog IBGC, Valdir Coscodai, presidente do conselho curador da FACPC, fala sobre o novo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade
Com a crescente conscientização mundial sobre sustentabilidade e mudanças climáticas, sobreveio a importância da definição de estruturas que atendam às necessidades dos investidores em relação aos padrões de relatório sobre clima e outros assuntos ambientais, sociais e de governança, com alta qualidade, transparência e confiança.
É com esse perfil que o Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS) foi instituído pela Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis (FACPC). O Comitê acompanha padrões internacionais editados pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), criado na Inglaterra pela International Financial Reporting Standards Foundation.
A reunião inaugural do CBPS aconteceu no dia 22 de setembro, quando foram apresentados o seu regimento interno e o código de conduta e empossados os coordenadores e vices das áreas de operações, técnica, relações institucionais e internacionais. De acordo com informações divulgadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o CBPS encaminhou ao ISSB um conjunto de esclarecimentos sobre aprimoramento da tabulação de informações, bem como a possibilidade de integrar os dados de sustentabilidade com as informações das demonstrações financeiras no futuro.
Valdir Coscodai, presidente do Ibracon e do conselho curador da Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis (FACPC), que idealizou o CBPS, foi convidado pelo Blog IBGC para um bate-papo sobre a movimentação brasileira em relação a essa temática. Acompanhe:
Blog IBGC: Qual a proposta do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), em relação ao desenvolvimento de estruturas para divulgação de relatórios financeiros?
Montamos um grupo de trabalho no início deste ano para decidir se seria oportuno criar a CBPS, espelhando o que foi feito na Inglaterra. Fizemos algumas checagens, conversamos com reguladores sobre as normas internacionais para que sejam seguidas nas companhias que têm ações em bolsa e instituições financeiras. Conversamos com a CVM, Susep, CFC, Apimec, Abrasca, Previ, Banco Central. Todos apoiaram a ideia, mantendo participação nas reuniões em que trouxemos os pronunciamentos internacionais para debate interno. Assim, decidimos pelo CBPS, criado por resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Como você avalia a maturidade das empresas brasileiras em termos de informação em sustentabilidade?
Existe uma diversidade muito grande de empresas dedicadas a mostrar o que acontece internamente, com relatórios próprios, completos, integrados, com muita informação. Há outras que apresentam algum capítulo do relatório da administração, que existe desde a criação da Lei das SA. Uns divulgam muito, outros pouco ou nada. Não há uniformidade.
Mesmo entre os que divulgam muita informação, existe a diversidade de critérios de mensuração, embora haja preponderância do Global Reporting Initiative (GRI). Ainda falta comparabilidade em diversas questões, o que se divulga, como se divulga.
E a questão da transparência em relação a esses relatórios?
Existe pressão de investidores que querem ter confiança na empresa em que vão investir. Acredito que o trabalho do CBPS vem nesse sentido, permeado por esses fatores externos, com mais transparência de informação e pressão para que critérios ESG fiquem bem claros. Também, muitas empresas já contam com relatórios assegurados por auditores independentes.
O CBPS apoia essa questão de forma muito ampla. Os movimentos relacionados à divulgação de ESG não vêm somente de investidores, vêm da sociedade. A pessoa que procura emprego, por exemplo, quer saber sobre a responsabilidade social da empresa, diversidade, governança da companhia. Percebe-se isso nas pessoas. A sociedade está mais crítica. Também os órgãos reguladores estão pedindo essas informações. Percebo pressão muito grande de investidores que de fato têm, internacionalmente, exigido divulgações completas, transparentes e confiáveis – asseguradas por auditores independentes, conforme se ouve de grandes líderes de private equity. Há um movimento amplo de todos os lados.
Nós queremos que o tema seja pauta dos agentes de governança e o CBPS vem ajudar a disseminá-lo com debates, palestras e divulgação de conteúdos.
Há mudanças nos conselhos na forma de lidar com esses assuntos ou ainda é um desafio?
Hoje, percebem-se saltos de empresas no mercado, com diretoria de ESG e executivos direcionados ao tema. Há companhias em que os processos produtivos e todo o andamento dos negócios têm indicadores que passam por esse tema. Se investir em uma fábrica, qual o impacto no clima, no social? Quais os compromissos de médio e longo prazo em relação a emissão de gás carbônico? Quero ser um net zero? O que devo mudar nos meus processos? Muitos já capturaram essas questões. Houve avanço grande, mas nem todos estão na mesma página e por isso o movimento precisa continuar forte para que todos ajam na mesma direção.
Quais os próximos passos da CBPS?
Estamos prevendo encontros, eventos, apresentações. A própria fundação programou uma conferência anual com esse tema em pauta, O Ibracon tem vários eventos e grupo de trabalho específico para tratar de ESG, Além de encontros com organizações como o próprio IBGC. Temos que mostrar cada vez mais a realidade. Temos que nos qualificar, entender e saber discutir o tema.
Fizemos uma força tarefa na fundação CPC para discutir dois documentos em audiência, publicados pelo ISSB, clima e critérios de divulgação, que estão em audiência pública internacional e queremos participar dela ao enviar uma carta com nossas considerações sobre o debate. Depois do debate internacional, queremos adotá-lo no Brasil.
Clique aqui para aprofundar-se sobre o tema. leia artigo publicado no Blog IBGC sobre recentes iniciativas da IFRS Foundation.
Fonte: Blog IBGC