Para Fábio Cajazeira, sócio líder da PwC, os avanços da IA impactam a tomada de decisões estratégicas e transformam o papel do contador

Na visão de Fábio Cajazeira, membro do Comitê Executivo e sócio líder da prática de Auditoria, Governança, Riscos e Compliance da PwC Brasil, a inteligência artificial (IA) está revolucionando o papel do contador, cuja atuação, em grande parte orientada a funções mais transacionais, passa a ter um papel mais estratégico e consultivo.

Com a automação de tarefas repetitivas, como lançamentos de dados e conciliações, ele pondera que os profissionais de contabilidade têm mais tempo para se dedicar à análise e interpretação de dados, essenciais para a tomada de decisões estratégicas nos negócios. “Ferramentas de IA podem analisar conjuntos de dados financeiros em segundos, identificando padrões e anomalias que poderiam passar despercebidos, permitindo que os contadores ofereçam insights fundamentais sobre investimentos, cortes de custos e otimização de recursos.”

Cajazeira ressalta que, ao se tornarem cada vez mais consultores de negócios, os contadores precisam desenvolver habilidades em áreas como comunicação, estratégia financeira e inovação, mudando, assim, a forma como os serviços contábeis são prestados. “Portanto, em vez de se concentrarem em conformidade e relatórios, os contadores passam a agir como parceiros estratégicos que contribuem para o sucesso das empresas em que atuam.”

Os avanços da IA também impactam a tomada de decisões estratégicas nas empresas. “Os avanços em IA proporcionam às empresas a capacidade de tomar decisões mais rápidas e assertivas, baseadas em dados”, explica o sócio líder da PwC. Ele ressalta que a tecnologia viabiliza análises preditivas que ajudam as empresas a antecipar tendências de mercado e comportamentos de consumidores, por exemplo, através de algoritmos de machine learning que conseguem prever a demanda futura por produtos com base em dados históricos. Contudo, há implicações éticas significativas, como preocupações com a privacidade dos dados e a segurança das informações dos clientes, além do risco de viés nos algoritmos. “Para que a IA seja confiável, as empresas precisam garantir que suas práticas sejam éticas e transparentes”, diz.

A automação e as tecnologias de IA têm um potencial significativo para aumentar a confiança dos clientes nas práticas contábeis. “A automação pode aumentar a confiança dos clientes e demais participantes do mercado nas práticas contábeis, contribuindo para a redução de erros e melhoria na eficiência dos processos”, afirma ele.

Com processos automatizados, as inconsistências nos relatórios financeiros podem ser rapidamente identificadas e corrigidas, aumentando a precisão das informações. No entanto, Cajazeira adverte que essa evolução vem acompanhada de riscos. “Uma falha em um sistema de IA, ou um algoritmo mal projetado, pode resultar em relatórios financeiros imprecisos ou em análises incorretas, prejudicando a reputação da organização.” Portanto, é crucial que os profissionais contábeis implementem controles robustos e auditorias regulares dos sistemas de IA. “Comunicar eficazmente essas práticas aos clientes é essencial para manter a confiança.”

Cajazeira também discute os limites do uso da IA na contabilidade. Segundo ele, a IA traz importantes benefícios, mais como uma complementaridade do que uma substituição da atuação do contador. “A IA é eficaz em tarefas que envolvem análise de dados e automação de processos, mas não possui a capacidade de interpretar contextos complexos, nuances emocionais ou dinâmicas de relacionamento.” Ele exemplifica que a análise de um investimento pode exigir um entendimento profundo das condições de mercado e estratégias competitivas, aspectos que vão além da capacidade atual da IA. Para garantir que a tecnologia complemente a análise crítica e o julgamento humano, os profissionais de contabilidade precisarão se empenhar em formação contínua e desenvolvimento de habilidades interpessoais.

Em relação às competências exigidas no novo cenário, Cajazeira afirma que a ascensão da IA impõe aos profissionais de contabilidade a necessidade de expandir seu conjunto de competências. “Não apenas conhecimentos técnicos, mas também habilidades interpessoais e analíticas são necessárias. A capacidade de trabalhar com dados e entender ferramentas de IA passa a ser essencial.” Ele destaca que competências em análise de dados, modelagem financeira e familiaridade com softwares de automação serão cada vez mais valorizadas. “Além disso, a habilidade de comunicação é fundamental, pois os profissionais precisam traduzir insights complexos de dados em informações compreensíveis e acionáveis.”

Cajazeira aborda ainda as preocupações com o desemprego pela adoção crescente de agentes de IA nas empresas. “A adoção crescente de agentes de IA gera inquietações em relação à empregabilidade. Embora algumas funções tradicionais possam ser automatizadas, como lançamentos contábeis e algumas auditorias, a realidade é que a IA também cria novas oportunidades de trabalho e transforma, valorizando o papel dos profissionais da área.” Ele ressalta que as empresas precisarão de especialistas para gerenciar, interpretar e validar os resultados gerados por ferramentas de IA. “Além disso, as atividades que exigem habilidades humanas, como consultoria, análise estratégica e interações pessoais, continuarão a ser valiosas e demandadas.”

Ao concluir, ele ressalta que, em vez de enfrentar um desemprego em massa, podemos esperar uma importante reconfiguração do mercado de trabalho para os profissionais da contabilidade. “A capacidade de adaptação e o desenvolvimento de novas habilidades serão essenciais. Investir em aprendizado e desenvolvimento contínuo permitirá que os profissionais se mantenham relevantes e preparados para as novas funções que surgirão em um ambiente de trabalho moldado pela IA.”