Para alguns contribuintes, a entrega da declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) é sinônimo de dor de cabeça. Seja por dúvidas, falta de tempo ou simplesmente preguiça de realizar o preenchimento de dados, há quem opte por um contador para resolver a pendência com a Receita Federal.
Para quem tem carteira assinada e poucos bens a declarar, a prestação de contas se torna simples. Mas, no caso de autônomos e de quem investe em ações, o processo de preenchimento de dados pode ser mais demorado.
Para o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Ceará (CRC-CE), Fellipe Guerra, a presença do profissional é fundamental para evitar erros e prestar contas com a Receita com segurança. Independentemente da decisão de contratar ou não um contador, a organização dos documentos é necessária.
Simplificada ou completa?
A Receita Federal possibilita duas formas de declarar o imposto de renda: simplificada e completa. Na primeira, é considerado um desconto padrão de 20% dos tributos devidos, sem considerar deduções. A segunda leva em conta deduções de dependentes, gastos médicos e com educação, por exemplo.
A professora do curso de administração do Mackenzie Campinas Manuela Santin explica que, seja qual for a forma escolhida, a declaração deve ser preenchida do mesmo modo.
O ideal é preencher todas as informações, porque aí o próprio sistema da Receita avalia e diz em qual das duas você tem mais imposto a restituir ou menos imposto a pagar. Você vai preenchendo, o correto é preencher tudo o que você tem de informação para que o próprio sistema possa te ajudar
Quem opta pela declaração completa normalmente tem um número maior de informações para declarar, como dependentes, alimentandos, bens e gastos dedutíveis.
A contratação de um contador para realizar o preenchimento pode facilitar a vida de quem tem menos tempo, mas, conforme a planejadora financeira Myrian Lund, a própria Receita já vem facilitando o processo nos últimos anos. Optar pela declaração pré-preenchida é uma forma de ir mais rápido e com os próprios pés.
“Hoje acaba que tudo fica muito fácil, porque você já tem a declaração pré-preenchida. O ideal é ter a conta gov.br. Tendo a carteira de motorista, você já tem a conta prata e aí você já tem acesso à declaração pré-preenchida. Só vai colocar o que vier além, o que você gastou ou recebeu além”, destaca.
Mesmo utilizando a declaração pré-preenchida, Fellipe recomenda que o profissional seja acionado.
Quando o contribuinte faz o preenchimento sem conhecimento, pode dizer que algo é tributável sem ser. Ele pode ter insegurança no valor que ele vai pagar, perder restituição ou cair na malha fina
Quando contratar um contador?
Por mais que a declaração seja vista por muitos como um bicho de sete cabeças, Myrian aponta que o processo costuma ser bastante simples para a maioria das pessoas.
Se você é uma assalariada e não tem vários bens, não tem mistério fazer imposto de renda. Você já vai receber extrato do trabalho dizendo onde tem que colocar cada item, previdência, informes bancários. Se tiver alguma dúvida, cada vez mais é mais fácil tirar
Para Manuela Santin, a procura do profissional pode ser importante para quem ainda está se sentindo inseguro, principalmente se esta for a primeira vez em que o contribuinte está declarando.
“À medida que ele vai fazendo a cada ano vai ficando mais especialista e vai dar conta sozinha. Mas se é uma pessoa com muitas dúvidas, já deveria contratar o contador”, coloca.
A professora destaca, porém, que não basta apenas contratar o profissional e dar o problema como feito. Para realizar a declaração de forma correta, o contador precisa ter em mãos todas as informações necessárias, o que exige um trabalho de organização por parte do contribuinte.
O contador precisará saber todas as formas de renda, bens e gastos que o contribuinte teve no ano passado. Caso o contribuinte omita algum dado, a declaração pode ir para a malha fina.
Conforme Fellipe, a contratação do profissional evita a malha fina, pode reduzir o valor do imposto a ser pago e até mesmo aumentar a restituição. Ele acrescenta que o contribuinte tem também menos riscos de ter de pagar multa por ter preenchido informações erradas, inexatas ou incompletas.
Declarações mais complicadas
Alguns perfis precisam de um maior trabalho para realizar a declaração por ser necessário o
preenchimento de muitos dados. Nesses casos, a contratação de um contador pode evitar dores de cabeça.
“Quando você tem mais de uma fonte de renda é importante, quando você tem também volumes de despesas dedutíveis mais consideráveis, porque esses valores vão acabar abatendo o valor a recolher. Quando o valor retido do seu salário for alto e tiver um volume alto de restituição, é recomendado o contador. Quem investe em ações, profissionais liberais, que tem rendimento através de outras pessoas físicas também é recomendado”, diz o presidente do CRC.
Myrian exemplifica que o contador pode ajudar médicos que não realizaram o carnê-leão durante o ano. “É bastante complicado porque precisa digitar todos os itens, para não pagar muito imposto tem que para no ano seguinte fazer isso mensalmente, porque fica mais fácil”, afirma.
Outro caso que requer atenção especial é quem investiu em ações no ano passado, seja na bolsa brasileira ou no exterior. O contribuinte precisa declarar data de compra, valor de compra, data de venda e valor de venda de cada ação manipulada durante o ano.
O contador pode ajudar no preenchimento, mas, para que a declaração seja feita de forma correta, o próprio investidor precisa ter tido um controle de todas essas entradas e saídas durante o ano para entregar essas informações ao profissional.
A planejadora indica que o contribuinte busque ajuda profissional sempre que a declaração tenha itens fora do padrão, como atividade rural ou espólio, ou para quem tem um patrimônio bastante elevado.
Principais erros
Quem preferir fazer a declaração por conta própria deve se atentar a alguns erros comuns para evitar problemas com a Receita. O primeiro deles é deixar tudo para a última hora, diz Myrian.
“Mesmo quem sabe fazer, se deixar para última hora dá zebra. Você pode ter que pagar em vez de receber por conta disso”, alerta.
O indicado é declarar apenas despesas que tenham comprovação, para evitar problemas futuros caso a declaração caia na malha fina.
Confira alguns erros comuns que devem ser evitados:
Omitir algum rendimento ou informar algo diferente do que está no recibo da fonte pagadora.
Colocar o valor total de um bem financiado em “bens e direitos”. Apenas o valor já pago deve entrar nessa aba; o restante da dívida deve constar em “dívidas e ônus”.
Não declarar benfeitorias de imóveis. Reformas e melhorias devem constar como benfeitorias do imóvel. Isso alterará o valor total no caso de venda.
Erros na declaração de previdência privada. No caso de previdência privada do tipo PGBL ou fundo de pensão, só são declarados os pagamentos feitos no ano, e não o patrimônio. Se for uma previdência VGBL, ela entra como se fosse um investimento.
Não declarar receitas de dependentes.
Fonte: Diário do Nordeste.