A vice-presidente Técnica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Ana Tércia Lopes Rodrigues, explica que as principais normas de sustentabilidade atualmente regulamentadas são as NBCTDS 01 e NBCTDS 02, que tratam das Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de Divulgação de Sustentabilidade. Essas normas oferecem orientações para as empresas divulgarem os impactos financeiros de suas ações sustentáveis, especialmente de que modo mudanças climáticas significativas podem impactar sua continuidade e operação, identificando riscos e oportunidades a partir de informações materiais — ou seja, aquelas capazes de provocar alterações relevantes na tomada de decisão de investidores e demais usuários das informações contábeis.
Ela destaca que essas normas já são obrigatórias por exigência da CVM para companhias de capital aberto a partir de 2027, com divulgação relativa ao ano-base de 2026. Portanto, as empresas abertas e aquelas sob regulação do Banco Central do Brasil precisam, já em 2026, começar a organizar seus sistemas e equipes para fornecer informações alinhadas ao padrão dessas normas, garantindo conformidade e transparência.
Além dessas, há também a OCPC, ou Comunicado Técnico Geral (CTG 10), que regula de forma detalhada a contabilização e divulgação de créditos de carbono. Dependendo do modelo de negócio — se a empresa é uma usuária final, intermediária ou originadora de créditos —, ela terá diferentes formas de contabilização. Portanto, esses três normativos — NBCTDS 01, NBCTDS 02 e CTG 10 — são considerados os principais que impactam a divulgação e os aspectos contábeis relacionados à sustentabilidade.
Para os profissionais da área contábil, entender essas normas é fundamental para oferecer suporte às organizações na implementação de práticas sustentáveis. Rodrigues recomenda que os profissionais acessem canais oficiais do Conselho Federal de Contabilidade, do IBRACON, da Fenacon e demais entidades que disponibilizam conteúdo educacional, como aulas, webinars, eventos gravados e circuitos técnicos. Segundo ela, “é um tema recorrente hoje nos eventos contábeis” e aqueles que desejam se aprofundar “não devem se privar de participar dos eventos”. Ela cita os Fóruns CBPS de Sustentabilidade de 2024 e 2025, cujos conteúdos estão disponíveis no YouTube do CFC, reforçando que o tema tem evoluído continuamente.
Rodrigues destaca ainda que, em 2024, foram divulgados os relatórios de grandes companhias, como Vale e Lojas Renner, sob o novo padrão de relatórios assinados por profissionais contábeis e auditados por auditores independentes. Sendo assim, “as discussões estão se dando em torno desse novo modelo”, que representa uma evolução significativa na forma de divulgar informações de sustentabilidade.
No que diz respeito às oportunidades de carreira, ela afirma que há uma grande variedade de possibilidades. Profissionais de contabilidade podem integrar equipes multidisciplinares na área de sustentabilidade, atuar como consultores, garantir a asseguração das informações e participar de departamentos internos das empresas na elaboração desses relatórios. “A tendência é de uma necessidade crescente de profissionais com conhecimentos específicos nessas áreas, devido ao impacto que a não divulgação dessas informações pode provocar, assim como os riscos envolvidos para as empresas que negligenciarem essas práticas,” explica Rodrigues. Além de elaborar relatórios tradicionais, as empresas precisarão adequar suas divulgações à conexão entre informações financeiras e de sustentabilidade — uma grande inovação de mercado.
Ela reforça que essa demanda por profissionais especializados oferece oportunidades crescentes, incluindo instrutores de cursos na área de consultoria, desenvolvedores de sistemas e treinadores de inteligência artificial. Há, inclusive, profissionais dedicados a treinar robôs e IA para atender essas novas demandas, o que evidencia uma expansão de oportunidades no setor.
Por fim, Ana Tércia Rodrigues frisa que a compreensão clara e didática dessas normas é essencial para facilitar a adoção de estratégias sustentáveis e estimular a inovação no mercado. Ela afirma que “a compreensão dessas normas é fundamental para que cada vez mais o mercado valorize essa informação.” Além disso, destaca que “essa informação só terá e agregará mais valor à medida em que ela for compreensível,” reforçando a importância de preparadores e auditores transmitirem confiança ao mercado, especialmente aos agentes de mercado, analistas e investidores.
Ela ressalta que, diferente das informações financeiras tradicionais, as informações de sustentabilidade, dentro desse novo padrão, ainda representam uma novidade, uma curva de aprendizagem que serve tanto para quem elabora quanto para quem interpreta ou recebe esses dados. “Hoje já é objeto de muita pesquisa, cada vez mais vão ter estudantes de mestrados, doutorados e de graduação fazendo trabalhos sobre essa temática. Quanto mais conhecimento for desenvolvido e disseminado, mais o assunto se expandirá, levando a uma maior conscientização das empresas sobre seu real compromisso com a sustentabilidade,” afirma.
Ela conclui destacando que o objetivo maior de todas essas mudanças é promover o desenvolvimento de uma economia mais limpa, que contribua ativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a ativação de mercados de créditos de carbono, energias renováveis e economias sustentáveis. Assim, “esperamos um mundo melhor para se viver no futuro, para respirar melhor, para evoluirmos como seres humanos e garantirmos recursos e qualidade de vida às próximas gerações,” finaliza.
Dessa forma, a incorporação dessas normas e a preparação dos profissionais de contabilidade para atuar nessa nova fronteira de mercado representam passos essenciais rumo a uma sociedade mais transparente, responsável e consciente dos seus impactos ambientais e sociais. O caminho ainda exige esforço, atualização contínua e uma compreensão aprofundada, mas as oportunidades de inovação e aprendizado tornam-se oportunidades de transformação que beneficiarão a todos.
