De acordo com Raul Corrêa da Silva, presidente, e Adriano Corrêa, sócio, ambos da BDO, a inteligência artificial (IA) tem um impacto moderado, mas crescente na contabilidade. Atualmente, a IA é utilizada para tarefas como o registro de transações e o monitoramento de desempenho, sendo especialmente eficaz no manuseio de grandes volumes de dados. Ela automatiza tarefas repetitivas, permitindo que os contadores se concentrem mais em análise e interpretação de dados.
Na auditoria, a IA é útil para detectar anomalias e reduzir erros humanos. Algumas firmas também têm adotado a tecnologia em processos orçamentários e de previsão; utilizam inteligência artificial para analisar conjuntos de dados de múltiplas fontes a fim de antecipar tendências econômicas, analisar riscos potenciais e aprimorar a precisão de suas previsões. “Estamos ainda no início desta revolução. É possível que, com o avanço dos algoritmos e a disponibilidade de dados, além do aumento da capacidade de processamento computacional, vejamos usos mais intensos. No entanto, a expertise humana continua sendo essencial para interpretar dados e contextos, tomar decisões éticas, emitir opiniões e garantir uma comunicação efetiva. A IA é – pelo menos hoje – uma ferramenta adicional para o contador, e não seu substituto”, explicam Raul e Adriano.
Além disso, na auditoria, a IA transforma a eficiência dos processos contábeis ao identificar padrões, analisar grandes volumes de dados e detectar anomalias. Isso permite uma auditoria mais profunda e abrangente, focada em identificar potenciais erros e desvios. A combinação de IA com automação possibilita uma auditoria contínua, ajudando na conformidade e prevenção de fraudes. Para Raul e Adriano, com algoritmos preditivos e análises de tendências, muitas vezes ilustradas com gráficos intuitivos e fáceis de interpretar, os auditores conseguem identificar e focar em potenciais erros e desvios que levariam tempo para serem descobertos. Além disso, tais análises são comumente feitas com a população total, e não com base em amostras, aumentando as chances de sua identificação e correção tempestiva e reduzindo o risco de auditoria e não detecção.
Paralelamente, há o benefício de, ao combinar inteligência artificial com rotinas de automação, os auditores serem capazes de realizar auditoria contínua, podendo identificar erros quase que no mesmo momento em que são cometidos, e não apenas no exame final. Isso ajuda o cliente em seu compliance, aprendizado contínuo e – em muitos casos – no combate e prevenção à fraude.
O conselho para os contadores é desenvolver habilidades em machine learning e análise de dados, enquanto fortalecem habilidades interpessoais, criatividade e raciocínio crítico. É vital estar ciente das questões éticas relacionadas ao uso da IA, como vieses algorítmicos e privacidade de dados. Os contadores devem entender os aspectos técnicos e éticos das ferramentas de IA, com organizações como a ACCA já incorporando módulos éticos em programas de educação continuada.
“Máquinas são amorais e os algoritmos, criados por humanos, podem carregar vieses de seus desenvolvedores, exigindo revisão crítica dos usuários para evitar conclusões errôneas ou discriminatórias. Há também uma grande preocupação com o direito de uso e sigilo dos dados de clientes, colaboradores e colegas. Se o contador usar um algoritmo gratuito, por exemplo, é possível que os contratos e direitos de uso permitam que os donos da ferramenta monetizem o conteúdo inserido nela. Assim, é crítico que o contador entenda o que está fazendo e como os softwares funcionam, o que exige leitura constante. Investimentos também são necessários para formar contadores que entendem não apenas os usos e aplicações das novas ferramentas, mas também como usá-las de forma ética e segura. Organizações como a ACCA, por exemplo, já cobram módulos éticos nos programas de educação continuada para endereçar essas preocupações”, avaliam Raul e Adriano.
O futuro da IA na contabilidade é visto como uma parceria entre tecnologia e profissionais. Enquanto a automação assumirá tarefas rotineiras, a interpretação humana, o julgamento ético e o entendimento contextual continuarão essenciais. Corrêa vê a IA não como uma ameaça, mas como uma aliada que otimiza processos e permite análises mais profundas e decisões mais fundamentadas, aumentando o valor da contabilidade nas organizações. “A tecnologia, em seu estágio atual, não é uma ameaça, mas sim uma parceira na otimização de processos, dando espaço para análises mais profundas e decisões mais criteriosas, ajudando a elevar a contabilidade para além dos números e ajudá-la a ocupar o seu lugar de direito como principal ferramenta de informação e decisão das organizações, agregando cada vez mais valor aos negócios”, finalizam.