* José Donizete Valentina
A sigla ESG, que remete às palavras Ambiental, Social e Governança em inglês, está em evidência. Cada vez mais, essa agenda amadurece e se consolida em todo o mundo, com grandes organizações convergindo no entendimento de que precisam – e devem – adotar métricas ligadas à sustentabilidade. Utilizado pela primeira vez em 2004 em uma carta das Nações Unidas às principais instituições financeiras do mundo, o ESG virou mantra no alto escalão das empresas após o começo da pandemia, que aumentou a pressão para que CEOs e conselhos de administração adotem uma agenda centrada em todos os stakeholders e não apenas nos shareholders.
A crescente demanda global de investidores por fundos ESG é uma realidade irreversível em todo o mundo. No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, há poucas semanas, que concederá financiamentos com destinação livre a empresas dos setores madeireiro, de mineração e siderurgia, entre outros, que se comprometerem a melhorar seus indicadores de sustentabilidade, com taxas de juros reduzidas àquelas que atingirem contrapartidas como a publicação de Relatório de Sustentabilidade no modelo Global Reporting Initiative (GRI). Por sua vez, o Banco Central também trouxe o ESG para o centro da regulação do setor bancário, por meio de um conjunto de regras relativas a riscos e oportunidades ambientais e climáticas. A partir de 2023, as instituições financeiras serão obrigadas a reportar questões sociais, climáticas e ambientais, embora as principais já o façam há anos.
Em mais um esforço para alinhar as regras sobre riscos climáticos e fornecer aos investidores internacionais informações consistentes e, ao mesmo tempo, evitar divergências entre as diferentes medidas existentes, os reguladores financeiros globais vêm se mobilizando para que essas normas estejam definidas e padronizadas até 2023. O desenvolvimento de um Conselho de Padrões de Sustentabilidade Internacional (ISSB, na sigla em inglês) pode marcar um grande avanço nesse cenário, trazendo mais mensuração para dentro dos relatórios financeiros, para que as ações de ESG possam ser analisadas de forma quantitativa, e não somente qualitativa. O órgão se espelharia, por exemplo, no papel do Conselho de Padrões de Contabilidade Internacional (IASB) na definição de normas contábeis.
Com cada vez mais empresas atentas à agenda ESG e a evolução da padronização global de informações financeiras e não financeiras nos relatórios corporativos, a accountability, ou a prestação de contas, tende a ter sua posição fortalecida como uma área estratégica para o compliance de sustentabilidade, garantindo os interesses dos stakeholders e o investimento em ativos responsáveis. Contadores e auditores têm nas mãos a responsabilidade de tangibilizar o intangível, metrificando esse accountability para trazer mais transparência às mensurações das iniciativas ESG, melhorando a divulgação dos dados socioambientais, de forma mais financeira e quantitativa, paralelamente ao combate às práticas de greenwashing e socialwashing.
A comprovação da materialidade e da relevância do que está sendo reportado pelas empresas no âmbito ESG é essencial para que essas informações possam, de fato, ser usadas em todos os relatórios financeiros, colaborando decisivamente para as tomadas de decisão. Às vésperas da COP-26 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro, em meio à expectativa pela formulação de uma estratégia global destinada ao combate às alterações climáticas, uma disrupção positiva na área de controladoria, auditoria e prestação de contas também pode estar a caminho.
* José Donizete Valentina é presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP).