Presidente do CRCSP, João Carlos Castilho Garcia, afirma que a IA aumentará a valorização do profissional de contabilidade

A inteligência artificial (IA) está promovendo uma mudança radical na contabilidade, indo muito além da simples automação de tarefas. A aplicação dessas tecnologias no dia a dia dos profissionais pode aumentar a eficiência operacional, ao mesmo tempo em que amplia o papel do contador, que passa a assumir uma posição mais estratégica, analítica e consultiva. Nesse cenário, é fundamental que haja uma adoção responsável e ética dessas inovações, garantindo que a tecnologia fortaleça a confiança e mantenha a integridade das práticas contábeis.

Segundo João Carlos Castilho Garcia, presidente do CRCSP, a IA impulsiona uma transformação profunda em vários setores e na contabilidade isso não é diferente. “A IA redefine o papel do profissional ao possibilitar uma atuação mais consultiva, analítica e estratégica, focada em valor agregado e menos em processamento de informações. Tarefas rotineiras, como lançamentos contábeis e conciliações, estão sendo automatizadas, o que permite ao profissional dedicar mais tempo à leitura dos dados, previsão de cenários, ao planejamento tributário e apoio à tomada de decisões assertivas”, explica.

No CRCSP, por exemplo, há o incentivo constante a atualização e ao uso consciente da tecnologia como aliada da profissão. No entanto, a implementação dessas inovações traz à tona questões relevantes acerca da ética e da responsabilidade. Para Garcia, o uso responsável da IA é fundamental. “A IA pode apoiar as empresas com informações relevantes obtidas a partir da análise de grandes volumes de dados em tempo real, contribuindo para decisões mais ágeis e fundamentadas, mas os algoritmos devem ser utilizados com transparência, segurança e respeito aos princípios éticos”, comenta. Nesse cenário, o papel do profissional de contabilidade vai além da mera interpretação técnica, envolvendo também a garantia da integridade dos dados e a orientação das organizações para escolhas conscientes, seguras e alinhadas às boas práticas.

A confiança do mercado e dos clientes nas práticas contábeis também depende da gestão transparente das tecnologias utilizadas. A automação, embora reduza erros humanos e potencialize a precisão das informações, exige uma supervisão técnica constante. Garcia reforça que a confiança depende de total transparência no uso das tecnologias e de supervisão técnica em todas as etapas críticas. “O profissional da contabilidade segue sendo indispensável para interpretar os dados, validar os resultados e garantir o cumprimento das normas e princípios contábeis. A tecnologia é um recurso de apoio, mas a responsabilidade e o conhecimento permanecem com o contador”, pondera.

Entretanto, há limites claros no uso da IA na contabilidade. Para Garcia, a automação não substitui o julgamento humano. “Existem limites técnicos e éticos que tornam indispensável o olhar atento do profissional. A IA pode sugerir cenários e otimizar processos, mas não compreende com a mesma profundidade as nuances culturais, normativas e estratégicas que envolvem a profissão. Decisões contábeis exigem interpretação, responsabilidade e contexto, elementos que vão além da automação”, afirma.

Por isso, na visão dele, cabe ao contador validar os resultados gerados pela tecnologia, aplicando seu conhecimento técnico e ético para garantir a confiabilidade das informações. “A construção da relação de confiança com os clientes continua sendo uma dimensão essencialmente humana, que demanda inteligência emocional e habilidades interpessoais. A IA deve ser vista como suporte e não como substituta: ela libera tempo e recursos para que o profissional se concentre em atividades de maior valor agregado, como consultoria estratégica, planejamento tributário complexo e análise de desempenho”, avalia.

No tocante às competências do profissional, o cenário atual exige uma combinação de habilidades técnicas e comportamentais. “Interpretar dados, utilizar ferramentas digitais, comunicar-se claramente e manter uma postura ética são diferenciais importantes. O domínio das normas contábeis permanece essencial, agora aliado à capacidade de atuar em ambientes cada vez mais tecnológicos.”, destaca Garcia. A educação continuada se estabelece como uma estratégia indispensável para acompanhar essa evolução, garantindo que o contador esteja sempre atualizado diante das novas demandas tecnológicas.

Quanto ao receio de desemprego em massa, o presidente do CRCSP enfatiza que a IA não representa uma ameaça à profissão, mas uma oportunidade de crescimento e diversificação. “A automação tende a assumir tarefas operacionais, enquanto o papel do profissional se amplia na análise, consultoria e tomada de decisão”, afirma. Nesse sentido, aqueles que se adaptarem às mudanças, aprimorarem suas habilidades e adotarem a tecnologia de forma proativa estarão melhor posicionados para colher os benefícios de uma profissão cada vez mais valorizada.

Por fim, a perspectiva de que a IA se tornará uma ferramenta comum até 2027 reforça a necessidade de uma postura antecipatória por parte dos profissionais e entidades de classe. O desafio, na percepção de Garcia, está em agir com antecipação, aprendendo a usar a tecnologia a favor da profissão. O papel do CRCSP e das demais entidades congraçadas contábeis é justamente apoiar os profissionais nesse processo, oferecendo qualificação e preparando-os para essa nova era. “A inteligência artificial não extingue a Contabilidade; pelo contrário, amplia seu alcance e aumenta a valorização do contador, destacando a importância de profissionais comprometidos, responsáveis, éticos e habilidosos. O futuro da profissão está em saber unir tecnologia com o julgamento humano, garantindo que a IA seja sempre uma aliada poderosa, e nunca uma substituta”, finaliza.